(...) Vendo que Moisés demorava a descer do monte, o povo reuniu-se à volta de Aarão e disse-lhe: «Vamos! Façamos para nós um Deus que caminhe à nossa frente, pois a Moisés, a esse homem que nos persuadiu a sair do Egipto, não sabemos o que lhe teria acontecido». Aarão respondeu-lhes: «Tirai as argolas de ouro das orelhas das vossas mulheres, dos vossos filhos e das vossas filhas, e trazei-mas». (...) Aarão fez um bezerro de metal fundido. Então, exclamaram: «Israel, aqui tens o teu Deus, aquele que te fez sair do Egipto» (Ex 32< 1-4).
Quando lemos esta passagem do Livro do Êxodo quase ficamos escandalizados, sem pensar que, actualmente, pululam entre nós muitos «bezerros de ouro» que nós também adoramos. E quando pensamos no que se passa em certos países onde se adoram animais nós, com ares de superioridade, maneamos a cabeça em sinal de desaprovação, dizendo interiormente: “como pode acontecer isto no Terceiro Milénio!”
Serenamente pensemos um pouco. Não será que também nós temos «bezerros de ouro»? Temos e de que tamanho! E como eles nos dominam!
Comecemos pelo «bezerro de ouro» que dá pelo nome de ludopatia, isto é, a dependência do jogo. Há muito por onde escolher: vai desde o jogo legal de certo modo gerido pela Santa Casa da Misericórdia e nos Casinos de porta aberta, até aos jogos ilegais que ninguém deve saber quantos são, nem onde funcionam. Há também os convites dos concursos televisivos ou a resposta a certas perguntas, onde ai só ganha a Telecom com os telefonemas que é preciso fazer. Há quem gaste centenas de contos, por semana, em jogo. Até no campo do ensino o jogo se está a insinuar; os manuais usam e abusam de exercícios à base de jogo; nos CD-ROM, de apoio didáctico passa-as a mesma coisa.
Outro «bezerro de ouro» é o sexo-mania, que apareceu após a propaganda feita a favor do corpo, vendo nele um factor de vida saudável; os ingénuos acreditaram e o engano tardiamente assumido levou-os à dependência, estimulada pela pornografia generalizada e atrevo-me a dizer banalizada, para «apanhar» mais ingénuos. Esta situação levou alguém a afirmar: “O problema é que a nossa sociedade estimula tanto a actividade sexual que muitos podem não se aperceber de que sofrem de uma doença progressiva que escapa ao seu domínio”.
Outro «bezerro de ouro» é o uso e abuso dos tranquilizantes, usados não como remédio, mas como forma de evasão e convite à desresponsabilização. Até crianças já os usam, neste caso para obviar aos inconvenientes do excesso de televisão e de jogos de computador de uma violência extrema que lhes causam terrores nocturnos, cefaleias e distúrbios na visão.
Mas há mais: o dinheiro, o poder, a posição social, o carro de luxo, o iate, a casa com piscina e ar condicionado, a comida mais que requintada, etc.
Deixo para o fim o pior dos «bezerros de ouro» - A DROGA. Todos estes «bezerros de ouro» levam a verdadeiras escravidões, muito piores que as de antigamente, pois os escravos de antigamente conservavam o domínio interior da sua vontade e as actuais fazem de seres inteligentes e livres, autênticos farrapos humanos, se bem que dignos de compreensão e respeito.